Cidade Inquieta

São José do Rio Preto, SP, outubro de 2015.

A cidade mais inquieta é aquela dentro de nós. Saber da condição urbana é sentir no corpo, na memória e nos afetos os efeitos desse espaço que nos invade e nos atravessa. A forma da sociedade urbana molda o jeito como nos relacionamos, entre nós e com o espaço. Nesse lugar, para a manutenção das relações de produção e sentido, destaca-se o papel do controle do espaço e do cotidiano, presentes em uma sociedade burocrática de consumo. A metropolização da vida contemporânea torna essas relações ainda mais complexas e ramificadas. O que define seu lugar?

Apesar das limitações impostas, existem elementos no presente que podem indicar uma via de transformação e revelar a potência dos resíduos que sobrevivem ao cotidiano. É talvez necessário criar a vida a partir de uma visão total do mundo, em sua profunda complexidade. Uma das características da metrópole de hoje, real ou simbólica, é essa totalidade. Nela se congregam tempos, espaços e corpos distintos. E, nesse sentido, o urbano como forma e realidade nada tem de harmonioso. Pelo contrário, nele se reúnem os conflitos e enfrentamentos, que fazem de sua existência, uma massa de contradições. Urbana hoje é uma forma de pensar e viver, não mais uma denominação de lugar.

Essa forma de pensar ressoa na produção artística contemporânea de muitas maneiras. A apropriação dos elementos presentes no espaço urbano é uma constante no trabalho de diversos artistas desta exposição. Muitos deles têm a rua como laboratório e espaço de criação, outros, como tema e espaço de reflexão e pesquisa. Na exposição, a arqueologia desse espaço pode se dar pelo uso de seus elementos físicos e simbólicos, a arquitetura, o cotidiano, o jogo, o sequestro dos sentidos, a memória, o simulacro e a história local. Todas essas abordagens estão presentes também no “Laboratório de Auto-curadoria”, onde serão exibidos trabalhos de mais de 20 artistas da cidade, em 4 mostras temporárias. Ali, o espaço expositivo se torna dinâmico, assim como a cidade.

O recorte desta exposição busca trazer diferentes possibilidades de percepção da sociedade urbana e da cidade pela observação e ação lúdica, crítica e/ou construtiva. Nas mais diversas manifestações ficam expressos incômodos, inquietações e esperanças, relacionadas, cada uma à sua forma, com esse lugar que tanto nos define quanto é definido por nós. Como é a cidade dentro de você? Exercitando o pensamento crítico e sensível, podemos reverberar energias (re)construtivas. A cidade mais inquieta é aquela que…

Danilo Oliveira
articulador da exposição Cidade Inquieta

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