Texto crítico de Rafael Campos Rocha, 2013.

Escrever pra que?

Eu acho que o Danilo Oliveira pinta pra caramba.
Ah! Certo, é um texto crítico. Vamos começar diferente então: quem vê uma pintura de Danilo Oliveira, em um primeiro momento, pode pensar que está diante de um herdeiro da tradição expressionista estadunidense da segunda geração, de um Diebenkorn, ou mesmo de um Kitaj (esse já reconhecidamente um proto-pop).
Seria um bom começo de texto crítico, né? O termo “em um primeiro momento” coloca a distancia social para o público, ainda que esse seja informado (afinal, conhece Diebenkorn e Kitaj). Com essa distancia, podemos reclamar nosso lugar na Igreja da Arte, na qual os curadores representam o Alto Clero e os artistas os possuídos pela Palavra, apesar de incapazes de proferi-la. Os críticos são, evidentemente, os hermeneutas. Os intérpretes das escrituras sagradas para a patuleia.

E partimos para o segundo parágrafo de nosso texto crítico: entretanto, se olharmos atentamente, podemos notar inúmeras outras convergências e articulações (ah! Esses cotovelos críticos!) com a cultura de massa, as imagens dos quadrinhos e das artes gráficas em geral (é importante o crítico falar “histórias em quadrinhos“ como se estivesse tratando de uma forma de vida alienígena outrora considerada perigosa, mas que por ora é inofensiva, anulada).

O mais importante, do texto crítico, enfim, é deixar escapar o principal, o que é visível a todos, dando a impressão de que o fundamental é, na verdade, o supérfluo, o desprezível de um fenômeno. Somente o crítico pode ver o que é realmente importante. Não você. Se você gostou da mesma coisa que o crítico foi pelo motivo errado.

O principal e visível, para a plebe, é que Danilo Oliveira pinta pra caramba. Sua pintura mantém o caráter tátil e viscoso, quase libidinal da pintura a óleo, que é manejada de forma a lambuzar o tecido com imagens que escorrem por toda superfície da tela. Poderia dizer que ele pinta bem assim porque é um homem do mundo, fala dos amores do mundo, dos animais, das inúmeras áreas arborizadas e aprazíveis da cidade. Porque elas existem, apesar de minarem desgraçadamente os discursos abstratos do novo urbanismo. Porque ele fala de parquinhos destruídos, mas que as crianças brincam. De árvores cansadas, mas que dão frutos. De uma arte de milhares de anos, que foi sepultada inúmeras vezes, mas que subsiste, e ainda é uma forma desinteressada de pensar esse mundo.

Mas na verdade ele pinta bem porque desenha bem. Porque domina as suas referências e escolhe o que fazer com elas, porque administra a sua carreira de forma que possa pintar melhor o ano que vem. Porque domina a sua tradição e dialoga com ela com elementos do mundo atual de forma reflexiva e sábia. Ele pinta bem porque não há nada honesto para se escrever sobre a pintura dele. Pensem nisso.

Rafael Campos Rocha, por ocasião da exposição individual “Toda tela é uma sala de espera”, na galeria Virgílio, em São Paulo.